Um "humor" de menina


por Adolpho Queiroz
Trabalho de Toshiko Nishida – Japão
A terceira edição da mostra “Batom, Lápis e TPM”, está chegando, como ação estratégica do Centro Nacional de Humor Gráfico de Piracicaba. E com ela, nova expectativa sobre como são mordazes as nossas artistas.
A história do humor gráfico feminino tem grandes representantes, como artistas e, certamente, como personagens (Monica, Luluzinha, Olivia Palito). Talvez poucos tenham ouvido falar de Dale Messik, que construiu a personagem Blenda Starr quando estreou sua primeira tira, em 1940 e entrou para a história dos quadrinhos como uma das primeiras mulheres cartunistas. Sua personagem atingiu o auge do sucesso nos anos 50, quando chegou a ser publicada em mais de duzentos periódicos, simultaneamente nos jornais norte-americanos.
Outra autora importante no campo é a argentina Maitena Inés Burundarena, que começou a carreira profissional como cartunista nos anos 80, quando publicou quadrinhos eróticos em revistas underground, como a Makoki, de Barcelona, e Sex Humor, da Argentina. Hoje, suas charges e tiras são traduzidas em mais de 15 países, publicadas em importantes revistas e jornais como o espanhol El País; o italiano La Stampa; El Mercúrio, do Chile; El Nacional, da Venezuela e o francês Le Figaro.
Nair de Teffé
No Brasil, o pioneirismo feminino sobre os quadrinhos é da ex-primeira dama Nair de Tefé. Filha do barão de Teffé, neta do conde von Hoonholtz , Nair estudou em Paris e Nice, na França. Tendo regressado ao Brasil, iniciou sua carreira por volta de 1906. Publicou seu primeiro trabalho, A Artista Rejane, na revista “Fon-Fon“, sob o pseudônimo de Rian (Nair de trás para frente e ‘ninguém’, em francês). Também publicaram suas caricaturas da elite, os periódicos O Binóculo, A Careta, O Ken, bem como os jornais Gazeta de Notícias e da Gazeta de Petrópolis.
A primeiríssima dama contemporânea do humor gráfico brasileiro mesmo seria a saudosa Hilde Weber (que na verdade preferia as charges políticas aos cartuns que publicava no jornal O Estado de S.Paulo) e uma das expositoras do Salão de Humor de Piracicaba, nos primeiros tempos nos anos 70. Depois dela o honroso cargo fica agora folgadamente para a pequena notável Ciça Alves Pinto que é a cartunista mais charmosa que o Brasil já teve, e presidiu o júri do nosso 38º Salão. São seus personagens o Pato, Filomena, Hermes e outros bichos críticos e politizados que formam o universo com o qual a cartunista atravessou quase quatro décadas cutucando a ditadura nas paginas da Folha de S.Paulo.
Mas as mulheres também brilharam nos Salões de Humor de Piracicaba, antes de serem convidas para a nova mostra, só para elas. Aqui algumas das ganhadoras entre 1974 a  2003 : as piracicabanas Marisa Hypólito Rosalen em 1982 e Luciane  Nogueira Montenegro, 1988. Depois delas, a paulistana Rosana Munhoz da Silva, 1989. E, por fim, os primeiros prêmios na categoria de histórias em quadrinhos, ganhos pela também paulistana Maria da Conceição de Souza Cahu, em 1992 e Thamis Simara Klein Forlin, em parceria com Armando Gomes Kaminski, de Gravataí/RS, também vencedores nesta categoria em 1999.
Experts são capazes de virar nossos fígados no avesso. De tanto rir… e pensar !