Salão Internacional de Humor de Piracicaba busca registro de patrimônio imaterial

Famoso em todo o mundo como um dos maiores eventos de humor gráfico, um dos mais antigos do globo, realizado de forma ininterrupta há 50 anos, o Salão Internacional de Humor de Piracicaba agora deve ganhar o registro de patrimônio histórico e cultural imaterial do município. O pedido está sob análise do DPH (Departamento de Patrimônio Histórico), órgão ligado ao Codepac (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural).

Tornar o Salão Internacional de Humor de Piracicaba um patrimônio cultural imaterial do município, assim como ocorreu com a Festa do Divino e o sotaque e o dialeto piracicabanos, ambos em 2016, reforça a importância do evento para a cidade e também perante o mundo, afirma Junior Kadeshi, diretor do Cedhu (Centro Nacional de Humor Gráfico de Piracicaba).

Abertura do 9 Salao de Humor de Piracicaba, em 1982

“Destacará ainda mais como o nosso Salão de Humor é uma realização cultural que faz brilhar os olhos da classe artística, público e imprensa, tanto do Brasil como de tantos países de outros continentes, assíduos no evento. E o ano é emblemático para isso, justamento quando celebramos 50 anos de realização”, reforça.

O secretário de Governo e da Semac (Secretaria Municipal da Ação Cultural), Carlos Beltrame, lembra que todos os registros anexados pelo Cedhu – entregues ao Codepac – para comprovar a importância do Salão de Humor têm um elemento em comum: Piracicaba.

“A cidade é o pano de fundo e cenário principal na história do Salão de Humor: foi aqui que nasceu a ideia do evento, foi aqui – e é aqui – o ponto de encontro de grandes representares do humor gráfico, além do Engenho Central, um patrimônio do município, que abriga a mostra principal, paralelas e o Salãozinho de Humor”.

Artistas posam para foto oficial do Salao de Humor de Piracicaba

MATERIAL HISTÓRICO – Júnior Kadeshi reuniu um vasto material do Salão de Humor para comprovar que se trata, mesmo, de um autêntico patrimônio de Piracicaba. São fotos antigas, muitas delas em preto e branco da década de 1970, que datam os primeiros salões, diversos depoimentos de artistas que passaram e ainda fazem parte do Salão (leia abaixo), além de registros na imprensa local, nacional e mundial, mais catálogos com o acervo do Salão Internacional de Humor de Piracicaba.

PRÓXIMOS PASSOS – O próximo passo é o Codepac receber o parecer do DPH sobre o pedido. A expetativa é que a resposta aconteça ainda neste mês. Em seguida, se favorável, o registro de Patrimônio Cultural Imaterial do município será encaminhado para a sanção no Executivo, pelo prefeito Luciano Almeida.


Chico e Paulo Caruso foram nomes frequentes de todas das decadas do Salao de Humor

Confira depoimentos de alguns artistas sobre a importância do Salão Internacional de Humor de Piracicaba:


“Tinha pouco mais de 30 anos quando um dia, pela manhã, fui surpreendido em meu estúdio de desenhista, em São Paulo, por um grupo entusiasmado de professores e estudantes piracicabanos. Tinham lido em uma matéria, que publiquei na Folha de S. Paulo, sobre o Salão de Humor de Luca, na Itália, e tiveram a ideia de repetir a experiência em Piracicaba. A proposta me surpreendeu, mas o entusiasmo do grupo era tão grande que eu, como colaborador do jornal de humor O Pasquim, topei. Então vieram me buscar para colaborar na empreitada. Semanas depois inauguramos o 1º Salão de Humor de Piracicaba no espaço de um banco, no Centro da cidade, na época com cerca de 70 mil habitantes. Foi um sucesso inesperado. Veio gente de toda a região, amigos de redação da Folha. Gol também do Pasquim, que deu uma página do sucesso retumbante”.

Zélio Alves Pinto, artista plástico, cartunista e um dos fundadores do Salão de Humor de Piracicaba


“Piracicaba é, há anos, palavra pronunciada em dezenas de idiomas pelo mundo afora. Devido ao Salão Internacional de Humor de Piracicaba que, com 50 anos de atuação, conquistou enorme prestígio e vai deixando importante legado cultural.”

Alcy Linares, cartunista

“O Salão demonstra, desde as primeiras edições, a tendência do humor gráfico sobre a política, questões sociais, econômicas e ecológicas do mundo”.

Luiz Antônio Lopes Fagundes, presidente das três primeiras edições do Salão

“O Salão de Humor de Piracicaba faz parte essencial do movimento brasileiro que se opôs à ditadura e foi criado num momento dramático, em que o governo usava e abusava de casuísmos, censura, violência e manipulação. O fato de se manter durante todos esses anos é prova da profunda identificação com que o público reconhece a sua importância.”

Laerte Coutinho, cartunista, primeira premiada no evento, em 1974


“O Salão Internacional de Humor de Piracicaba é um dos mais emblemáticos do Brasil com a participação de milhares de artistas do mundo todo.”

Elena Ospina, cartunista da Colômbia

“Participo do Salão há uma década e já fui premiada, homenageada e já integrei o júri. O que considero mais importante é o acervo criado nesses 50 anos, algo único no mundo e que não tem preço. Grandes artistas contam boa parte da história do país e do mundo, com criatividade. É mais do que necessário que o Salão Internacional de Humor de Piracicaba seja reconhecido como Patrimônio Imaterial.”

Synnöve Hilkner, artista gráfica, escultura e cartunista da Finlândia radicada no Brasil


Fundadores do Primeiro Salão de Humor reunido em Piracicaba