Jane, Batgirl, Olívia Palito: Mulheres em Quadrinhos (por Adolpho Queiroz)

desenho de Natalia Matos
     Homens são bons criadores de mulheres.  Mas, quando o assunto é história em quadrinhos, charges, caricaturas e cartuns, as mulheres acabam se sobressaindo. Quem não acreditar, que vá conferir pessoalmente a partir deste sábado, no Armazém 14 do Engenho Central, a terceira exposição em comemoração ao Dia da Mulher, intitulada “Batom, Lápis e TPM”, criada pelo Centro Nacional do Humor de Piracicaba  (CEDHU), para homenagear e realçar o papel da mulher criadora e criativa nesta atividade.

            Elas nascem para o cenário histórico como personagens marcantes – mesmo criadas por autores como Lee Falk (Fantasma), Shuster e Siegel (Superman) e Edgar Rice Burroughs (Tarzan) – como protagonistas secundárias, mas de quem emerge uma força importante. Diana Palmer, a mulher do Fantasma era uma diplomata da ONU que trabalhava pela igualdade social; Lois Lane, a decantada namorada do Super Homem era uma jornalista investigativa igualmente preocupada com a justiça e Jane, a multimilionária mulher do Tarzan, largou o conforto de casa para ir viver na selva.

            E a famosa Olivia Palito, namorada eterna do Popeye, criada por Elzie Segar, em 1919, nasceu pelo menos uma década antes do seu ídolo o marinheiro Popeye. A discreta e charmosa Olivia tinha antes um namorado folgado chamado Ham Gray, mas só foi conquistar o mundo navegando nas aventuras do marinheiro dos espinafres. Assim como a Luluzinha, de Marge Buell, criada como cartum em 1935 e imortalizada nas histórias em quadrinhos assinadas por John Stanley, que publicou as histórias no Brasil entre 1955 a 1972.

            A inquieta e intransigente Mafalda, do argentino Quino, originalmente foi criada para um anúncio a ser publicado no jornal “El Clarin”, de Buenos Aires. Como a campanha foi cancelada, Mafalda apareceu pela primeira vez como história em quadrinhos no jornal Primeira Plana em 25 de setembro de 1954 e não parou mais de inquietar seus leitores, mundo afora, com suas perguntas irreverentes, sob o traço do hoje oitentão Quino.

            Dos quadrinhos para o cinema, imortalizada por Michele Pfeiffer, a nossa eterna “BatGirl” foi sempre irreverente como as demais personagens, ao longo  de mais de um século de aventuras por  páginas impressas, que se encontram guardadas em gibitecas, em coleções particulares, a alimentar os sonhos dos meninos de ontem e hoje.

            Inovadora, contudo, a Secretaria de Ação Cultural da Prefeitura de Piracicaba foi justamente se inspirar nestas meninas de papel, para homenagear as mulheres do dia a dia, igualmente bravas, lutadoras, portadoras de uma capacidade indiscutível de realização, honestas, firmes no caráter, empreendedoras, que hoje arejam as janelas de casa para as conversas sobre política e ética e, ao governarem os países, vão se mostrando mais intensas e, sobretudo, muito menos corruptas que  muitos dos homens que estão no poder.

            Ao saudar a abertura de mais uma exposição em homenagem a cartunistas do mundo todo que enviaram suas obras para Piracicaba, a cidade lavra mais uma conquista importante: a de descobrir novos talentos femininos criadores, de onde virão nossas novas Luluzinhas e Olívias; e em seguida, mostrar que além de tricô e crochê – artes igualmente nobres – elas são capazes de desafiar nossa imaginação com suas personagens rabiscadas a lápis de cor ou nos photoshops da vida.

Adolpho Queiroz é pós-doutor em comunicação pela Universidade Federal Fluminense, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie/SP e presidente do Conselho Consultivo do Salão Internacional de Humor de Piracicaba 2013/2016.