Adilson, o patrono do Salão de Humor

Por Adolpho Queiroz

Adilson Maluf, na abertura do 3º Salão de Humor de Piracicaba – 1976

 E lá se foi o nosso bom amigo Adilson Maluf, para seu encontro com Deus. Tive a alegria de puxar o ultimo pique-pique no seu aniversário dia 27 de junho, com os amigos mais próximos e familiares. Quando ele pediu para falar, fez se um silencio respeitoso. Disse que estava feliz por estarmos todos por lá naquele momento, mas que preferia ter nos recebido mais condignamente.

 Condigno, contudo, era o momento com que ele se despedia de todos nós, eloquente, lucido e generoso como sempre, com todos. Conseguiu esboçar vários sorrisos de alegria naquela noite, ao lado da a sua querida Rosa, com que nos legou em parceria, a primeira edição da Festa das Nações. E com os filhos e netos. E amigos, muitos deles, entre os quais o nosso prefeito Luciano Almeida.

 Por alguns, Adilson será relembrado como um prefeito jovem e intrépido, que mudou Piracicaba com suas articulações inovadoras. Legou a cidade um primeiro distrito industrial e trouxe uma indústria estrangeira para contrapor-se aos coronéis da cana de açúcar, em parceria com um grande empresário de São Paulo, o primeiro shopping com vocação regional, 35 anos antes da criação da Região Metropolitana de Piracicaba. Vários dos ex-secretários que conviveram com ele por dois mandatos, eram constantes nos cafés e rodas de prosa que promovia em seu escritório.

 Deixou vários amigos também do grupo do Terço dos Homens da Irmandade do Divino e da igreja de São Benedito, do qual era um dos devotos e, num ultimo o sopro imaginativo, coordenava em sonhos a necessária reforma da igreja. Sonhava, pedia, ligava, debatia com os arquitetos, conversava com autoridades eclesiásticas. Queria, certamente, ter partido, com a igreja reformada. Talvez seu ultimo desejo em favor de Piracicaba.

 Mas haverá de ser reverenciado também pelos artistas da cidade, da região, do Brasil, das Américas, da Europa, do mundo inteiro, tendo gravado seu nome definitivamente quando o Movimento Democrático Brasileiro, MDB era voz forte da sociedade contra as arbitrariedades dos anos pós 1964. Dez anos depois, foi a partir do seu gabinete de trabalho, na esquina das ruas São José e Rosário, que saíram as iniciativas que deram forma e conteúdo a um dos mais prestigiados salões internacionais de artes.

 As artes incomodadoras dos cartuns, das charges, das caricaturas exóticas de personagens honrados e grotescos do mundo e dos salões dos quatro cantos do mundo. E era um entusiasta permanente da conversa amena e amiga. Como não podia dizer não, tinha sempre alguém ao seu lado que ficava com a tarefa de dizer não por ele.

 Adorava, entre outros, o nosso velho XV de Novembro, do qual foi presidente e, como bom gestor, fez um acordo que honrou até o ultimo centavo, para quitar dividas trabalhistas do clube que se acumulavam com os anos. Sorriu e se entristeceu no Barão com vitórias e derrotas do nosso Quinzão. E continuou, até os últimos dias, acompanhando as transmissões esportivas na rádio Educadora, pela voz amiga de Mário Luiz, com quem sempre trocava boas histórias e comentários em seu programa.

 Andava fascinado com novos projetos e falava deles com alegria. Surpreendeu-se, na campanha eleitoral a prefeito em 2020, com novas ideias de jovens empresários, especialmente sobre o campo da energia solar aplicada a empreendimentos agrícolas, comerciais e industriais.

Não era dono da praça – a José Bonifácio – mas cercado de amigos, passava horas, à noite, conversando sobre assunto de sua predileção, a política. Falava dos seus acertos e erros na cidade. E sempre era procurado pelas novas lideranças que pretendiam participar do jogo político na cidade.

Foi um homem bondoso, honesto, trabalhador, criativo, que juntava os amigos periodicamente para conversar, como fazia com o pessoal doo Clube do Sereno, do grupo da janta, familiares e de muitos que estiveram ao seu lado nos anos em que sua imagem pontificou como liderança políticas local e nacional, quando eleito deputado federal pelo velho MDB.

Partiu em paz. Deixou uma legião de amigos e, desde já, uma saudade imensa.

(Adolpho Queiroz é um dos fundadores do Salão Internacional de Humor de Piracicaba)